sábado, outubro 07, 2006

Segundo Turno 2006

A difícil escolha: tucanos neoliberais ou petistas neoliberais

Na democracia representativa, limitada por definição, ao escolhermos o chefe do Poder Executivo como se fará no próximo dia 29, escolhemos não apenas o candidato, mas o conjunto de forças políticas que o apóiam. Há que considerar ainda o aspecto plebiscitário subjacente a um sistema que prevê o estatuto da reeleição sem desincompatibilização.

De quem Lula está cercado? De quem Alckmin está cercado? O eleitorado precisa ter isto em mente ao se decidir.

Acendendo luz amarela na campanha petista, apesar do rio de dinheiro público desviado para a campanha reeleitoral de Lula da Silva, apesar de todo o suborno, cooptação, do festival de propagandas mentirosas e caríssimas e até da montagem de dossiês suspeitos, a maioria do eleitorado brasileiro disse NÃO a Lula da Silva, determinando a ocorrência de um segundo turno, no qual o eleitorado se vê reduzido a escolher entre o programa corrupto, incompetente e neoliberal (direitista) de Lula da Silva e o programa igualmente neoliberal (direitista) dos tucanos. O debate proposto por Lula, se ele roubou mais ou menos que os tucanos ou se ele é mais ou menos incompetente que os tucanos é irrelevante. O cerne está na proposta igualmente neoliberal, benéfica aos bancos e lesiva aos seres humanos, que ambas as propostas defendem. Pobre Brasil...

Mensaleiros, sanguessugas, corruptos e autoritários re(eleitos)

O povo brasileiro perdeu uma excelente oportunidade de fazer uma limpeza no Parlamento. Com a exceção do sanguessuga Ney Suassuna (chateadíssimo porque o povo paraibano deixou de eleger um cidadão acusado de desviar “meros” R$ 200 mil e elegeu um outro, paraibano nato, acusado de desviar cerca de R$ 2 milhões – isto dá o tom do debate que se avizinha...). Pois bem, com exceção de Suassuna, os demais foram reeleitos.

Para Suassuna, beneficiário de rios de recurso oriundo dos cofres públicos para sua rede de escolas via PROUNI, a perda da “boquinha” é menos significativa.

É preocupante. Parece que corrupção e desvio de dinheiro público não é considerado grave pelo eleitorado – particularmente o paulista, que neste estado se concentra o maior número de petistas corruptos, mensaleiros e sanguessugas -, que reelegeu João Paulo Cunha, José Mentor, Waldemar Costa Neto, Antônio Palocci e outros menos notórios mas igualmente perigosos, dando a eles o foro privilegiado da impunidade parlamentar.

Outro que se elegeu para gozar da impunidade (com votação consagradora dos paulistas!) foi o hoje aliado de Lula da Silva, Paulo Maluf. O eleitorado alagoano fez pior: elegeram Collor de Mello, hoje também aliado de Lula da Silva.

A registrar-se ainda a eleição do costureiro Clodovil Hernandez que, em sua primeira entrevista após eleito, ao portal G1, da Rede Globo, proferiu pérolas como: “não sei o que vou fazer lá [no Congresso Nacional]. Ninguém lá faz nada e você quer que eu seja o primeiro?” e ainda: “R$ 30 mil de mensalão é muito pouco... Meu voto na Câmara está à venda, como o de todo o mundo, mas exigirei preço muito mais alto!”

Tudo isso faz lembrar aquela campanha milionária que permitiu a Lula e sua quadrilha desviar um rio de recursos públicos para paraísos fiscais no exterior que agora se internalizam para comprar dossiês e outras ilegalidades. A campanha, como todos se recordam, rezava: “um bom exemplo: tudo começa aí”. Com os exemplos que Lula da Silva vem dando, esta atitude complacente para com a corrupção por parte de eleitores e eleitos nem chega a ser surpreendente...

Manipulando estatísticas

Durante o governo tucano “ajustaram-se” algumas estatísticas para melhorar a situação do Brasil na visão do cenário internacional – o que antigamente se chamava de “para inglês ver”. Como as medidas da educação no Brasil estavam calamitosas e a única coisa necessária para apresentar internacionalmente é o número percentual de crianças até 14 anos matriculadas em escolas, promoveu-se uma superlotação das unidades educacionais, sem que se fizesse a mínima reforma infra-estrutural ou mesmo sem se aprimorar as condições de trabalho dos profissionais de educação, portanto em detrimento da qualidade do ensino. O resultado interno foi a brutal degradação salarial da atividade docente e a formação de uma geração inteira de analfabetos diplomados.

Como tudo o mais no governo Lula, manteve-se intocada esta distorção herdada e se foi ainda mais longe! A maneira como se medem as estatísticas de desemprego no país foi modificada: agora ficam excluídas do cômputo final as pessoas que estão desempregadas há mais de 1 mês, aqueles que estão ingressando no mercado de trabalho e os que conseguem sobreviver fazendo bico, no mercado informal. Assim, conseguem apresentar resultados estatísticos fantasiosos desinformando no sentido de uma “queda no desemprego”. Com isso, temos na prática uma das maiores legiões de desempregados da história do Brasil mas, nas estatísticas, o Brasil aparece no cenário internacional praticamente com pleno emprego...

Similarmente, removendo as maiores fortunas nacionais das estatísticas e isentando-as do pagamento de imposto de renda promove-se uma pavorosa concentração de renda. Também a mais iníqua do mundo e de toda a história do Brasil. Contudo, como contabilizam somente os trabalhadores que recebem até 20 salários mínimos como sendo a camada superior da sociedade e estes vêm tendo seu padrão de vida aviltado mês a mês, apresenta-se como resultado uma artificialíssima “redução nas desigualdades sociais”. Na prática, os verdadeiramente ricos – no alto da pirâmide social e inatingidos pelas estatísticas petistas – ficam cada vez mais ricos, os trabalhadores cada vez mais pobres, o fosso social se amplia e as estatísticas apresentam resultado completamente descolado da realidade.

O que esperar dos debates?

Tanto nos debates quanto na vindoura propaganda eleitoral “gratuita” ouviremos Alckmin cobrar – com toda a razão, por sinal! – a falta de compostura moral de Lula da Silva e sua quadrilha por um lado e, de Lula, coisas como “nunca antes neste país se combateu tanto a ética como em meu governo (detalhe: “combate à ética” é como Lula se refere ao que ele imagina seja “combate à corrupção”)”.

Todas as vezes que Lula participou de debates foi massacrado: demonstrou-se despreparado. Debates e situações em que a palavra pode ser dada a um interlocutor que lhe questione são seu ponto fraco. Seu forte são os discursos messiânicos e demagógicos, onde pode monologar livremente e dizer todas as sandices que lhe apeteçam. Isto o levou a fugir da imprensa durante todo o seu mandato e mesmo a fugir de todos os debates no primeiro turno. Ele não teria como responder a Heloísa Helena coisas como “o que o levou a renegar todo o seu passado de esquerda e fazer hoje um governo para os banqueiros?”

Sem Heloísa Helena, enfrentando somente o picolé de chuchu da Opus Dei, pode ter alguma chance. Duvido. A conferir.

Lázaro Curvêlo Chaves

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