quarta-feira, outubro 04, 2006

Peres pede cassação do Ney Suassuna por quebra de decoro parlamentar


O relator do Conselho de Ética, senador Jéferson Peres pediu agora a pouco (11h10) a cassação do senador Ney Suassuna (PMDB) por quebra de decoro parlamentar. Segundo o relator, se configurou quebra de decoro porque Ney negligenciou “as obrigações do cargo especialmente no que se refere ao zelo da coisa pública e ofensa a impessoalidade”.

Peres analisou passo a passo acusações, provas e a defesa do senador, e apesar de não encontrar provas tanto na questão de recebimento de propina quanto na participação no esquema dos Sanguessugas, ele entendeu que Ney é culpado.

“Não há dúvida que o senador não é um réu sem culpa, vítima de seus próprios erros. Sai deste triste episódio com a reputação trincada. A sua permanência no Senado Federal contribuiria para prejudicar o já abalado prestígio desta instituição”, alega.

Segundo Peres, não há indícios de que o senador tenha auferido benefício no esquema. “Todos os ouvidos negaram que o senador tenha recebido alguma propina”.

Impessoalidade - Em relação a quebra do princípio da impessoalidade, o relator mencionou matéria publicada na Folha de São Paulo, utilizada inclusive pelo próprio senador para se defender, onde se verificava uma fotografia de uma ambulância do município de Monteiro onde se lia: ‘apoio do senador Ney Suassuna’.

“É impossível que o senador desconhecesse esse fato. É de se supor que o senador tenha participado da cerimônia de entrega das ambulâncias”, disse Péres.

Tal fato, segundo o relator, caracterizava ofensa ao princípio da impessoalidade da pessoa pública. "Ao ferir o princípio o senador recebia em troca os dividendos eleitorais junto aos prefeitos e eleitores. Pode ser que para o senador isso seja visto como algo normal”, estranha o senador.

No seu voto o relator disse ainda que o caso era emblemático e que mais que um parlamentar estava em julgamento um modelo político "exaurido e em decomposição".

“Esse processo põe a nu as relações promiscuas entre o poder Executivo, Legislativo e parte do empresariado”, argumentou.

Beirada - Sobre a afirmação de que 90% dos parlamentares tiram ‘uma beirada’ das emendas - a declaração foi denunciada pelo presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) - Péres disse que não havia como provar que Ney a tinha feito.

“Essa afirmação serviria por si só para abrir inquérito sobre quebra de decoro parlamentar”, entretanto, para o relator, apenas o depoimento do presidente Biscaia não servia como prova.

Na sua conclusão, Peres voltou a dizer que apesar de não haver provas que o senador tenha participado do esquema, o que o macula “é a sua negligência e ausência de controle” em relação aos seus comandados, além da quebra do princípio da impessiolidade.

Além de queda, coice
Por Walter Santos


O senador Ney Suassuna, de fato, não está no melhor de suas fases. Ao contrário, como se diz no popular, vive o ‘inferno astral’ pela derrota apertada para o Senado e, nesta quarta-feira, com o pedido de cassação pelo relator da Comissão de Ética, Jefferson Peres, por quebra de decoro parlamentar no caso das Ambulâncias.

A tese central do senador do PDT é única: agiu com negligência, ao invés de ter sido mais enérgico com seus assessores envolvidos na famosa operação Sanguessuga.

O relatório, mesmo não atestando envolvimento pessoal do senador, serviu para atender o rigor processual, mas, sobretudo, à Grande Midia – esta decisivamente responsável pela pressão e conduta expurgatória do senador paraibano.

A tese da negligência, em parte, não pode ser ignorada porque a severidade também poderia ter existido, entretanto, se no cerne central da questão – a de recebimento ou envolvimento com propina inexiste com o senador – o pedido de cassação como medida drástica foi dosagem além da conta porque, noutras circunstancias, certamente que, no máximo, daria uma advertência.

O fato é que Ney é ‘a bola da vez’ da ‘grande roda’ – esta com outros interesses e certamente agindo por conta de interesses contrariados e inconfessos na relação com o senador paraibano.

Solitário numa luta desigual, Ney parte agora para tentar convencer seus pares de sua inocência – isto é, na busca de cada voto para evitar a cassação – ampliando seu calvário não se sabe até quando.

Em tudo fica a lição dura demais: Ney Suassuna precisa rever um monte de questões no trato político da vida porque está provado não ser o dinheiro o fator principal para se vencer adversidades públicas.

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