quinta-feira, setembro 28, 2006

PONTO DE VISTA

Povo e Políticos no Mesmo Caldeirão

Amilton Gomes

Durante um tempo, pareceu que o Brasil passava por mudanças profundas na sua forma moral de ser. Tudo começou em 29 de setembro de 1992 - cassação Collor de Mello. O desenrolar do processo que levou ao impedimento reforçou a noção de que, dali em diante, a política seria exercida de forma transparente e o homem público se voltaria mais para a solução de questões nacionais e regionais, prioritárias, descarnados que estariam da vontade de se locupletar na transitoriedade democrática.

Antônio Carlos Magalhães parece ter sido o primeiro, no Brasil, a hastear a bandeira da moralidade, procurando mostrar transparência em seu governo de então.

No ano seguinte, aconteceu o escândalo dos "anões do orçamento" no Congresso e com a cassação dos baixinhos, cresceu a convicção geral de que o país mudou mesmo: ACM vai para o Senado, ocupa a presidência do Congresso empunhando a mesma bandeira da moralidade pós-Collor de Mello, o que lhe valeu uma homenagem singular de seus pares.

Dizia estar-se vivendo nova era. Porém, como a flecha do tempo não pára, o Século XXI chega com um povo cansado de tanto sofrimento, promessas, pobreza, incertezas e desespero. Empossa-se novo governante nacional, certamente o mais medíocre, e logo se revelaria o mais corrupto, de cuja oficina de trabalho flui um imenso mar de lama. Eram chegados, pois, os tempos de Lula, Marcos Valério, Duda Mendonça, Genoíno, dólares em cueca, Zé Dirceu, mensalão, Delúbio Soares, vampiros, Sílvio Pereira, sanguessugas e tantos outros peles vermelhas emergidos do absconso.

Dos quadros da velha política, a nova ordem atrai, através de manobras opacas, para suas hostes, os mais degradados: Sarney, Roseana, Severino Cavalcante, João Correia (das sentenças), Maluf (pelos dólares da Mancha?), Jader Barbalho (conselheiro), Roberto Jéfferson (mensalão), Ney Suassuna. Enfim, compôs imensa maioria política para lhe coonestar a imensa fúria, e uma tropa de choque para silenciar tudo. Até o Orestes Quércia, que se acreditava moralmente morto, ressurgiu. Toda essa tropa alegre a voluptuosa passou a compor o panorama do Palácio do Planalto, dançando em tétrico lamaçal. Não tardou, por fim o apoio importantíssimo do presidente do STF concedendo liminares desmontadoras de CPIs.

Para completar, surge o escândalo da contaminação dos cacauais, cujos atores, também do partido do Governo Federal, destruíram muito mais que uma lavoura. Dizimaram uma civilização. A Civilização do Cacau.

Com a imprensa mostrando dia e noite tantas patifarias, meses após meses, não tardou a banalização dos fatos. Daí em diante, o governo e sua tropa trataram de desacreditar seus denunciadores, distribuir mensalinho travestido de Bolsa Família e preparar-se para dizer ao povo "que é mentira sua fama de ladrão, prometer o fim da fome e tá ganha a eleição," como diria o poeta J. Quirino.

Não conheço ninguém que não aponte o Lula como ator principal e comandante supremo deste reino de Sodoma e Gomorra. Mas as pesquisas mostram que ele poderá ser re-eleito. São seis a oito candidatos a presidente e o eleitor está escolhendo exatamente o único apontado como corrupto e chefe de uma gang sinistra

"... Dizei-me vós, Senhor Deus! Se eu deliro... ou se é verdade..." (Castro Alves).

Pensava-se que a corrupção era privilégio apenas de políticos e militantes, agora é vista quase metade de um povo pululando na bestialidade do macabro festival.

Deve ser este o inferno moral vaticinado por Ruy Barbosa!

Duas coisas lamentáveis: o povo fingir não reconhecer as pessoas corretas, nem pretender separá-las das corruptas. A outra é que isso induz a perpetuação do mau político, a quem dar força para debochar de tudo e de todos, falar bem de si na televisão, escondendo, é claro, o principal, repetir que é mentira sua fama de ladrão e prometer dessa vez fazer o que sequer pensou em cogitar no mandato que ora está terminando. Enfim, mais um período (mandato) zombando de todos.

Cada eleitor escolherá segundo sua consciência livre e solitária. Mas se, de fato, decidir como parece demonstrar nas pesquisas, não estará livre de perguntar a si mesmo, algum dia, qual foi sua contribuição para restaurar os costumes políticos do país, que vive apenas a euforia de um mercado externo aquecido e trepidante, comprando-nos tudo, sem crescermos nada, o que é um risco irreparável na volta cíclica da economia.
Tamar

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