terça-feira, setembro 26, 2006

PAULO, O GUERREIRO DE MUGIQUI

Ontem vi neste BLOG de Rainério, a notícia de que Paulo Conserva estava na UTI, porém não sabia o motivo de sua estada naquela Unidade. Hoje, lendo a mensagem de Paulo Conserva Sobrinho, tomei conhecimento do mal que acometeu o nosso amigo Paulo.

O Grande Guerreiro de Mugiqui, nome que eu tive a liberdade de criar, acostumado aos grandes percalços da vida não poderia sucumbir a mais um! Sua tenacidade, sua garra fazem com que este obstáculo, mais um em sua vida aguerrida, seja transposto com êxito.

Paulo Conserva! Penso ter algum cacife para falar sobre este itaporangado, epíteto por ele mesmo criado. Muito cedo, ainda, já chegando à juventude, ingressamos em seminários, eu, no seminário dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, na Várzea, bairro do Recife, ele, no seminário de Caicó, salvo engano, e posteriormente, no de João Pessoa. Durante o período de férias encontrávamos, na nossa cidade, Itaporanga, quando ainda, a chamávamos de Misericórdia. Paulo era um seminarista compenetrado, como sempre o foi nas coisas que abraçou, tanto que Misericórdia inteira achava que ali se via um futuro sacerdote.

Eu, seminarista muito mais por necessidade do que por vocação, admirava aquela fé de que Paulo era dono. Boa parte da população de Misericórdia, que o conhecia, ficou atônita e decepcionada quando soube do seu abandono pela batina. A estas alturas, eu, também, já agradecera a Deus pelos três anos de boa formação recebida em sua escola sacerdotal.

Então, voltamos a nos encontrar na Casa do Estudante da Paraíba, à Rua da Areia, como seus hóspedes. Paulo, mais guerreiro, conseguira um emprego na Caixa Econômica de João Pessoa, com o qual podia sustentar-se, em seus estudos, aliviando o bolso familiar. Em diversas ocasiões, quando descíamos a Rua da Areia ou a Ladeira Feliciano Coelho em busca da Casa do Estudante para enganarmos o estômago, Paulo costumava dizer que, a qualquer dia, sairia de João Pessoa em busca de meio mais adiantado. E era verdade! A nossa linda Cidade das Acácias ficara pequena para o sonho do guerreiro!

E num dia qualquer, não sei se ele entrou para a Marinha e se foi para o Rio de Janeiro ou se foi para o Rio de Janeiro e entrou para a marinha, o certo é que quando pressentimos a sua ausência, Paulo já fazia parte dos fuzileiros Navais.
No começo do ano da graça de 1963, minha mãe foi morar em João Pessoa e eu, naturalmente, deixei o Casarão da Rua da Areia, nosso abrigo, nosso refúgio durante longos 5 anos.

Em 1964 estourou o Golpe Militar e soubemos que o Marinheiro Paulo Conserva, não aceitando os ditames do Regime ora imposto no País, pelas Forças Armadas com a ajuda da Elite, patrocinada pelos Estados Unidos, rebelou-se, sendo um dos mentores de uma quartelada contra os opressores da Nação, em favor do Direito de Liberdade do País. O preço de sua rebeldia foi alto! Foi expulso da Pátria! Entretanto, não se rendeu! Seu idealismo não foi amarrotado! Suas idéias perenizaram em sua personalidade de Socialista nato! Vagou pelo mundo, afora, Hungria, Cuba, etc., até os dias de sua anistia.

Se os mais velhos itaporanguenses ainda reverenciam seus filhos que estiveram no FRONT, na Alemanha, durante a segunda grande guerra, como Francisco Leite (Chico de Joaquim Izidro) e Jonas Malaquias (Joninha de Senhor Malaquias), nos tempos atuais, devemos ter o Guerreiro de Mugiqui, como um orgulho nosso, pois sacrificou parte de sua juventude por uma causa nobre, a libertação do julgo imposto ao País durante duas décadas.

Agora, Paulo Conserva cai numa armadilha imposta pela vida. Mas eu conjeturo com meus botões: se sem ajuda alguma, o guerreiro sempre foi à luta e venceu, imagine, agora, tendo o auxílio de seus irmãos itaporanguenses, através da força das orações!
Paulo Conserva, meu amigo, Guerreiro de Mugiqui, juntamente com minha família, estamos torcendo por sua vitória, mais uma em sua aguerrida trajetória, pois o jogo já está 3x1 a seu favor, falta, apenas, o apito do término da partida, quando você cruzará a porta do Hospital em busca de seu Lar.

Força, Guerreiro!

Jesus Soares da Fonseca

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