sábado, janeiro 20, 2007

Sacerdócio ou negócio?

por Fernando Caldeira ::.


Numa das definições dadas à palavra sacerdócio, o Aurélio diz: “missão ou profissão honrosa.”

Pois bem, aqui e acolá ouço os políticos afirmarem que a política é sacerdócio, como que indicando ser uma doação de si a outrem. Não tenho dúvidas ser honrosa para qualquer cidadão a missão de representar um povo no parlamento ou no palácio do governo.

Mas, se é assim, por que então os trabalhadores em geral têm que comprovar 30 anos de contribuição previdenciária, no caso das mulheres, e 35 para homens, para se aposentarem, e muitos com salários não integralizados, enquanto a maioria dos nossos políticos, ou seriam sacerdotes da vida pública(?),conseguem suas aposentadorias com 8 anos de mandato, no caso de deputados estaduais na Paraíba, e até de 6 meses para quem exerceu o cargo de governador do Estado?

Assim, como se vê, ser ‘sacerdote da vida pública’ é ultra diferente e anos luz de distância da realidade de um trabalhador de carteira assinada.

Leve-se em consideração, aliás, que a esmagadora maioria dos de carteira assinada percebem vencimentos mensais de 350 reais, enquanto os salários desses ‘sacerdotes’, na ativa ou na aposentadoria, em média, é de 10 mil reais.

É essa dicotomia entre o que se diz da política e o que se faz na política que gera na população um sentimento de inconformação. Ela não consegue entender, como nós também não, como um cidadão que recebeu a honrosa missão de governar ou legislar, o que por si já é uma dádiva, pode usufruir de uma aposentadoria que os demais levam anos a fio para conquistar.

Ora meus amigos, todo homem público antes de ser político foi trabalhador comum, como dentista, médico, advogado, etc. Para se aposentar, deveria se somar o tempo de vida pública exercida com o tempo de trabalhador comum. Se esta soma, no caso de homens, alcançasse 35 anos, ele teria direito à sua aposentadoria. Caso contrário, ele teria que, fora da vida pública, continuar o trabalho que antes exercia, ou outro se assim desejasse, até alcançar o tempo definido na lei para qualquer trabalhador.

Por que, exercendo 8 anos, ou dois mandatos eletivos, o parlamentar na Paraíba tem direito a aposentadoria?
Dirão os defensores dessa excreção que esses deputados pagaram um instituto de previdência parlamentar. Ora, pagaram com o dinheiro público que receberam dos mandatos outorgados pelo povo.

No caso de ex-governadores, pior ainda, porque nem sequer contribuição alguma houve.

Não se trata aqui de pontuar esse ou aquele político, porque a crítica não é pessoal. A crítica que fazemos é genérica porque injustificada em qualquer caso como os citados.

Ser deputado ou governador ou senador, já é por si só um presente. Presentear os ex com salários como se ainda o fossem é, no mínimo, zombetear da esmagadora maioria que trabalha de segundas à sextas-feiras, oito horas por dia, durante 30 anos, no mínimo, para chegar à condição de aposentado.

Assim, conclui-se, política não é sacerdócio. Muito mais se assemelha a um grande negócio!

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