terça-feira, setembro 19, 2006

Um bom tema para a campanha

Eleno Mendonça (*)

Houve um tempo no Brasil em que ter o curso básico concluído era o suficiente para se virar na vida. Depois começaram a pedir faculdade, incluíram o inglês, depois outra faculdade, MBA e por aí vai. Isso tudo mostra um mercado no qual há muito mais pessoas atrás de uma mesma vaga de emprego. Entra governo, sai governo e não se dá conta nem de arrumar vagas para os 2% da população que todos anos entram no mercado.

Ainda que você nunca vá precisar de tantos requisitos eles estão lá para triar as pessoas interessadas na vaga. Com isso, criou-se um mercado de trabalho para muito pouca gente. Afinal de contas, quem tem condições de berço para tanto curso e quem pode buscar tanta qualidade assim num país onde é preciso criar programas de renda mínima para garantir não o acesso a compras, mas a própria sobrevivência de algumas parcelas da população?

Os meios de comunicação e os governos deveriam dar mais atenção a isso tudo. Os mercados de trabalho são o coração de tudo, de quem participa, consome, faz a máquina virar. A cada desempregado reduz-se a expectativa de compra de tudo, inclusive de informação. Antes havia uma cobertura mais vigorosa em torno do assunto, em alguns veículos existia até editoria específica para falar de emprego. Eles foram sumindo, acabaram com as equipes. É o velho argumento de que se não há emprego não há necessidade de ter um fórum para falar dele. Da mesma forma como acabaram as áreas de prestação de serviços econômicos sob a alegação de que não havia mais inflação.

Essa desculpa é no mínimo esfarrapada. Há tanto para se falar do mercado de trabalho, tanta cobrança a ser feita ao governo que o assunto poderia ocupar até um jornal específico sobre o tema. Da mesma maneira que as coisas relacionadas ao dia-a-dia das contas, como prestações, juros bancários, empréstimos dos vários gêneros, consórcio, casa própria etc.

O mercado avança e não se dá às pessoas as ferramentas necessárias, nem se dá acesso para formação, muito menos emprego. Se olharmos nos últimos anos todos os ministérios de trabalho pouco fizeram efetivamente pelo emprego novo, pela inclusão dos jovens, pela manutenção dos velhos, pelo disciplinamento das relações de trabalho, que hoje são totalmente terceirizadas a partir de determinados salários. Os programas que surgem ou estão fora da realidade ou não dão conta de abarcar as necessidades.

Assim é que cada um se vira como pode no sentido de se instruir e tentar acompanhar o ritmo do mercado. Por esses dias vi que a pesquisa Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada pelo IBGE em 2005 mostrou que o computador está mais presente nos lares. De 2004 a 2005, o número de domicílios com Pcs cresceu 16%, superando outros bens duráveis, como televisão e rádio. Mas, apesar do crescimento, a informática só chega a 18,6% das casas brasileiras e apenas 13,7% dispõem e acesso à internet. A inclusão digital, é bom que se diga, foi programa de governo e está arrolada no rol de corrupção da máfia dos sanguessugas. Ou seja, da vez que estavam certos apareceram logo os aproveitadores e detonaram a seriedade de um programa bem intencionado.

Com a queda do dólar e barateamento dos equipamentos aos poucos as pessoas vão comprando, outros vão trocando e repassando as máquinas mais antigas. De maneira que, mais por conta própria do que por outra coisa o povo vai tentando chegar lá.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Rádio Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.

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