quarta-feira, setembro 13, 2006

Suassuna alega inocência e ataca imprensa e Biscaia

Senador se diz vítima de perseguição da imprensa e de deputado, culpa ex-assessor, mas não convence relator, que sinaliza com pedido de cassação

O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) negou nessa terça-feira (12/09) qualquer envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Em depoimento no Conselho de Ética, o peemedebista se comprometeu a abrir mão de seu mandato e a desistir da disputa pela reeleição se vier à tona alguma prova de que ele tenha recebido propina em troca de emendas para a compra de ambulâncias. O ex-líder do PMDB atacou a imprensa e o presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), aos quais acusou de perseguição.
"Há 131 dias eu venho sendo atacado em espaços grandiosos nas páginas dos jornais. Eu não tenho culpa. Eu sou inocente. Estamos vivendo uma época de psicose da imprensa. Daqui a pouco ninguém mais vai querer ser senador", disse Suassuna, que é candidato à reeleição.
"Eu renuncio a meu mandato aqui e agora e também a minha campanha na Paraíba se me apresentarem outra prova a não ser a de um bandido (Vedoin) que uma hora falou 'eu acho que ele sabia' e outra hora disse 'acho que ele não sabia'. Eu não mereço tudo o que está me acontecendo", afirmou.
O relator do processo de cassação de Suassuna, senador Jefferson Péres (PDT-AM), admitiu a falta de provas cabais contra o peemedebista, mas sustentou que o depoimento não foi suficiente para alterar suas conclusões e que possui argumentos para sugerir a perda de mandado. Ele agendou a apresentação de seu parecer para a próxima quarta-feira.
"Não há prova cabal do recebimento de propina, mas, por outro lado, nós estamos julgando o comportamento dele. O senador pode ter quebrado o decoro sem necessariamente ter cometido um delito", justificou o relator.
Em depoimento à Justiça Federal no Mato Grosso, o empresário Luiz Antonio Vedoin, sócio da Planam principal testemunha da fraude, disse que negociou o repasse de R$ 225 mil com Marcelo de Carvalho, ex-assessor de Suassuna, em troca de emendas.
Durante todo o seu depoimento, Suassuna negou que tenha envolvimento com os Vedoin e com a ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, apontada como braço no Executivo da quadrilha que negociava a compra faturada de ambulâncias com recursos do orçamento da União.
O senador alegou ainda que sua assinatura foi falsificada em um ofício que destinava recursos para a compra de ambulâncias para uma entidade da sociedade civil de interesse público (Oscip) no Rio de Janeiro. O documento é um dos indícios que podem ligar o parlamentar à fraude. Mas, pressionado pelo relator, o ex-líder do PMDB no Senado não soube explicar por que não apurou suposta falsificação de sua assinatura em documento oficial.
Suassuna entregou ao senador Jefferson Péres o resultado de uma perícia grafológica, executada por José Cândido Neto, que atestaria a falsificação da assinatura do parlamentar.
"Vossa excelência não quis saber como aquilo saiu do seu gabinete? Ao tomar conhecimento, não procurou colocar aquilo em pratos limpos?", perguntou o relator. O peemedebista explicou que, quando soube do ofício, demonstrou surpresa: "Isso eu não pedi, não. Pode ser que assinei sem ler. Pode ter passado na correria do dia-a-dia."
"Não tenho relações com essas entidades. Não existem provas contra mim, simplesmente porque não participei desse esquema. Eu também não vou explodir e fazer novas revelações, como disse a imprensa. Não vou renunciar e nem pedir demissão. Também não tenho humor instável. Estou há 38 anos no PMDB e nunca tive outro partido", afirmou Suassuna.
O parlamentar disse ainda que os Vedoin não fizeram nenhum depósito na conta de qualquer parente seu. Suassuna afirmou que teve prejuízos morais e emocionais devido às acusações de que foi vítima. "Eu não tenho culpa, eu sou inteiramente inocente. Eu não entendo por que fui escolhido para ser Geni", afirmou o parlamentar, em referência a uma personagem criada pelo compositor Chico Buarque em uma de suas músicas.
"O dono do mundo"
No depoimento ao Conselho de Ética, Ney Suassuna criticou duramente o presidente da CPI dos Sanguessugas, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que na semana passada relator aos senadores uma conversa que teria mantido com o parlamentar paraibano sobre o esquema dos sanguessugas. Ao Conselho de Ética, Biscaia relatou que, numa conversa informal, Suassuna teria dito que "90% dos parlamentares do Congresso recebem uma beirada das emendas (parlamentares)".
"Ele (Biscaia) disse isso por vaidade, porque ele está debaixo dos holofotes da imprensa. Agora, ele se sente o dono do mundo", afirmou Suassuna. O senador afirmou que está reunindo elementos para processar o deputado.

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