domingo, novembro 05, 2006

SOLIDÃO


- Boa tardi, Dotô.
- Boa tarde. Sente-se.
- Careci não. Ficu im pé, mermo.
- Sente-se para eu poder lhe examinar.
- O Dotô é quem manda.
- Mas fale-me. O que está acontecendo?
- Ai, Dotô! Mi dá umas dô di veiz in quandu.
- Que dor?
- Aqui, óia. Nu estombo. Bem lá nu fundinhu.
- Forte?
- As veiz. Trasveiz é anssim ó, di mansinhu.
- E o que você faz?
- Tem veiz que eu cantu. Trasveiz eu vô pra cunzinha fazê um bolu.
- Tem outra dor?
- Tenhu, sim, Dotô. Aqui, ó. Pertu dus óio.
- E essa é forte?
- Também é forte não. Quandu ela dá eu cunversu cas vizinhas, i ela passa.
- Tem mais alguma?
- Tenho sim sinhô. Aqui. Assim, nu meio das custela, pareci qui é nu coração. Dá uns apertu aqui, ó.
- E você faz o que?
- Tem veiz qui eu choru. Trasveiz eu ficu assim, muitu da queta pra vê si passa.
- E passa?
- As veiz. Trasveiz eu vô pra pracinha. Lá eu sentu num bancu pro mode vê as criança brincá prá esperá passá.
- Você mora com alguém?
- Moru não, Dotô. Sô sozinha nessi mundão di meu Deus.
- Não tem família?
- Aqui tenhu não. Minha famia é todinha du interiô du sertão, pertinhu de Patos, lá na paraíba, adonde o vento faz a cruva.. I eu vim sozinha pra Sum Paulu tentá a vida.
- E você faz o que?
- Óia, Dotô. Eu já fiz um cadinhu di tudu nessa vida. Já trabaiei numa Firma di limpeza, já cuidei di criança. Já trabaiei numa casa di genti rica. Agora eu trabaio cuma mocinha qui mais viaja qui fica im casa. Ela avua num avião. Di dia i di noiti. Aí eu ficu sozinha.
- Você mora com ela?
- Moru sim, Dotô. Ela dexa eu drumi num quartinhu lá nus fundu da casa.
- Sabe cozinhar?
- Ora si não! Cunzinhu muitu bem! Coisa mais simpres anssim. I coisa mais di genti chiqui, eu sei um pôcu.
- Gosta de crianças?
- Ô, seu Dotô. É as criaturinha mais anjinha qui Deus butô nu mundu!
- Qual o seu nome mesmo?
- Óia, Dotô. Eu num gostu muitu dele não, mas modi agrada a santa, minha mãe butô Crara.
- Dona Clara. Eu sei o que a senhora tem.
- Comu assim, si o Dotô nem incostô nim mim?
- O que a senhora tem Dona Clara, chama-se solidão e é a causadora de toda essa tristeza.
- I issu mata, Dotô?
- Ás vezes, sim. Mas, no seu caso bastam amigos, alguns remédios e um pouco de carinho. Dona Clara. Vai parecer estranho e nem eu mesmo entendo porque estou fazendo isso, mas minha esposa está grávida e nosso segundo filho é para o mês que vem. Já temos uma menina. E até hoje é minha esposa que cuida de tudo. Porém, com o bebê pequeno precisamos de alguém que cuide da casa. Que tal a senhora ficar conosco?
- Ora si não! Óia, Dotô. Nunca fizeram issu pru mim não. Vixe! Vai sê uma coisa muntu da boa ficá cum ôceis. I careci di morá lá, Dotô?
- Sim. Temos um quarto vago, no apartamento. Podemos tentar por uns meses.
- O que a senhora acha?
- Dotô. É assim como tê famia, né?
- Quase.
- Dotô. Eu num vô mais sê sozinha. Vixe! Deus lhi pague, Dotô, pru modi qui carinhu assim, nem mãe mim dava.
- Vamos testar. Combinado?
- Cumbinadu. Dotô. Careci di eu fazê só mais uma pregunta. Eu num vô mais senti essas dô não?
- Vamos combinar uma coisa? No dia que sentir essa dor, você me procura.
- Prá modi du senhô mi inxaminá?
- Não. Prá modi nóis trocá dois dedinhu di prosa.

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1 - Mais de 400 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão.

2 - A maioria dos pacientes deprimidos que não é tratada irá tentar suicídio pelo menos uma vez e 17% deles conseguem se matar. Com o tratamento correto, 70% a 90% dos pacientes recuperam-se da depressão.

3 - Aproximadamente 2/3 das pessoas com depressão não fazem tratamento e dos pacientes que procuram o clínico geral apenas 50% são diagnosticados orretamente.

4 - Segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde a depressão é mais comum no sexo feminino, afetando de 15% a 20% das mulheres e de 5% a 10% dos homens.
Fonte: http://www.psiqweb.med.br)

Não custa nada a gente "tirar" um tempinho da nossa vida e dar atenção ao próximo! Vamos refletir sobre isso!
postado por Rainério

1 comentários:

Anônimo disse...

Agradeço a publicação de meu texto neste blog, mas ele é registrado na Biblioteca Nacional e só pode ser publicado desde que seja com minha autorização e conste meu nome como autora. Solicito, portanto, a retirada dele.

Meu texto, publicado em meu site pessoal: sandrapontes.com/?p=594

Por favor, respeitem os Direitos Autorais.

Obrigada.