quarta-feira, novembro 08, 2006

O DISCÍPULO SEGUE O EXEMPLO DO MESTRE

“Vende-se picolé”

O anúncio foi visto pelo governador Jorge Viana em um ramal distante no interior do Vale do Acre e apresentando como um divisor de águas para o homem do campo: é impossível produzir picolé sem energia elétrica. E seria impossível a energia sem o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica, mais conhecido como Luz Para Todos.

Criado no governo Lula, apresenta-se como o mais eficiente apagador de lamparina e candeeiro no interior do Brasil, num circulo virtuoso de inclusão humana. Milhares de famílias que muitas vezes formaram gerações sem ter tido acesso à luz agora podem contar com a energia elétrica em seus lares. Jorge Viana citou o anúncio durante a abertura do curso de formação de gestores de políticas públicas, há dois meses, no Teatrão. A platéia achou engraçado, riu e o governador explicitou seu raciocínio, observando que não fosse a energia a placa não estaria ali. Simples? Nem tanto.

Para que a rede elétrica chegue às casas estão sendo necessários milhões de investimentos e, no caso específico do Acre, requer uma logística diferenciada. No Vale do Juruá, mais precisamente na região da Foz do Breu, a rede acompanha a sinuosidade do rio para poder atender todas as comunidades. Lá, como em nenhuma outra região, o acampamento é montado em barco. Cerca de trinta homens vivem na embarcação, e assim permanecem até completarem o trabalho. Os operários enfrentam todo tipo de adversidade para levar o divisor de águas para os viventes dos pontos mais distantes do Acre.

“Ninguém vai ficar sem luz no Acre”, vaticinou o governador com a convicção da eficiência do programa. Onde não for possível implantar postes e cabos, o Governo já tem alternativas. Assim, a ótica do êxodo terá de ser outra para o meio rural do Acre nos próximos anos. Conforme o próprio governador, a luz é a grande diferença entre o campo e a cidade –e é o que de fato tem a capacidade de fixar o homem na roça. E a cada trecho inaugurado, a cada ordem de serviço assinada, o governador expõe-se cada vez mais convicto no ideário do Luz Para Todos. Recentemente, na Vila do Incra, em Porto Acre, Viana afirmou que os benefícios estão só começando.

Somente naquele município, a luz já chegou a 700 famílias. Na segunda etapa, que já está começando, o programa estará ampliando a rede para mais 210 quilômetros, tirando da escuridão cerca de duas mil famílias. Início - O governo federal iniciou em 2004 o “Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica - Luz para Todos” com o objetivo de levar energia elétrica para a população do meio rural. O Programa é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia com participação da Eletrobrás e de suas empresas controladas. A ligação da energia elétrica até os domicílios é gratuita.

As famílias sem acesso à energia estão majoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano e nas famílias de baixa renda. Cerca de 90% destas famílias têm renda inferior a três salários-mínimos e 80% estão no meio rural. Por isso, o objetivo do Programa é levar a energia elétrica a estas comunidades para que elas a utilizem como vetor de desenvolvimento social e econômico, contribuindo para a redução da pobreza e aumento da renda familiar.

Além disso, a chegada da energia elétrica facilita a integração de outros programas sociais, como o acesso a serviços de saúde, educação, abastecimento de água e saneamento. Mais R$ 84 milhões em investimentos e 3.016 quilômetros de rede em todo o Acre. Há poucas semanas, o governador assinou ordens de serviço para implantação de mais 3.016 quilômetros de rede com investimentos de mais de R$ 84 milhões. Somente na região da Estrada Transacreana, onde Viana assinou as várias ordens, são mais 371 quilômetros de rede que beneficiarão diretamente 1.484 famílias com investimentos que somam R$ 9.408.000.

Até agora, nada menos que quase a metade da população rural já tem acesso à energia elétrica –um feito, se comparado com outros Estados. Na Amazônia, o Acre ocupa as primeiras posições no cumprimento das demandas do programa estabelecidas pelo Ministério das Minas e Energia, superando regiões onde o acesso à zona rural é muito mais fácil, como Rondônia. Os investimentos atuais permitiram oferta de emprego que ultrapassam as l.000 vagas. Nada menos que oito empresas trabalham diretamente na implantação da rede em vários pontos do Estado.

Assim é o Luz Para Todos: grandes investimentos e resultados maiores ainda. Empresas como a Concrenorte Indústria de Artefatos de Concreto, que atua no mercado de pré-moldados em concreto desde 1999, foram fortalecidas - “e não dão conta”, disse o coordenador estadual do programa, Cleber Peres. Para o programa, as prioridades são os projetos de eletrificação rural paralisados por falta de recursos que atendam comunidades e povoados rurais; municípios com Índice de Atendimento a Domicílios inferior a 85%, calculado com base no Censo 2000; projetos que enfoquem o uso produtivo da energia elétrica e que fomentem o desenvolvimento local integrado; escolas públicas, postos de saúde e poços de abastecimento d’água; assentamentos rurais; projetos para o desenvolvimento da agricultura familiar ou de atividades de artesanato de base familiar; atendimento de pequenos e médios agricultores; populações do entorno de unidades de conservação, e comunidades remanescentes de quilombos ou extrativistas.

Luz tem personagens de fé, trabalho e esperança O Luz Para Todos guarda personagens emblemáticos, como José Ferreira da Silva, o Zeca Mosquito, morador da Foz do Tejo há trinta anos. Naquela comunidade, Mosquito mantém uma pequena oficina onde os extrativistas o procuram para consertar motores e outros equipamentos. O curioso é que desde que chegou na região, Mosquito utiliza um esmeril manual para fazer alguns serviços. Até o final deste ano, garante Cleber Peres, coordenador do programa, Mosquito aposentará o esmeril manual e passará a usar o elétrico, não necessitanto mais de grandes esforços para tocar o trabalho.

De acordo com Peres, o que mais se facilita com a chegada do Luz Para Todos é de fato a questão econômica. Mas, sobremaneira, a saúde fica muito melhor porque com a luz rapidamente tem-se uma geladeira, o que enterra o uso de sal para conservar alimentos. O sal excessivo é o grande causador de hipertensão no meio rural do Acre. Com o Luz Para Todos é previsível a redução da doença entre os agricultores. No Projeto Alcobras, em Capixaba, um professor montou uma escola de informática na comunidade dias depois da chegada da eletricidade. “E quando a obra começa, os vendedores de eletrodomésticos vão atrás pelo ramal.

Quando a luz começa a funcionar, eles passam entregando os aparelhos”, disse Peres. O aparelho de DVD está entre os mais procurados. Os números 70 por cento das famílias compram um aparelho de TV ao cabo de um mês da chegada do Luz Para Todos, segundo pesquisa da Eletroacre. Em três meses, 90% têm uma TV e 70%, geladeira. 15 por cento das famílias rurais do Acre tinham energia elétrica em 1999, ano em que Jorge Viana assumiu o governo. Em 2006, 50% das famílias têm acesso ao Luz Para Todos.

Jesus Fonseca

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