quinta-feira, março 01, 2007

É a administração, estúpido...

Tudo resolvido. Os deputados vão criar uma lei que institui a prisão do agente penitenciário que facilitar a entrada de celulares nos presídios. Brilhante. É o fim da violência no Brasil.

Evidentemente, os agentes penitenciários vão passar a ganhar mais, porque o cachê dos que receptam celulares vai subir. E quando eles forem pegos e passarem para o lado de lá das grades, choverão candidatos para ocupar rapidamente os seus lugares – e para prover devidamente aos novos presidiários seus próprios acessórios telefônicos.

É admirável como o mercado e a vida zombam dos homens de bem.

A prisão para os "desipes" que traficarem celulares, a redução da maioridade penal, a proibição do contingenciamento das verbas de segurança no orçamento da União (eureka!), enfim, está aberta a temporada da pantomima legislativa em busca das manchetes de jornal.

É compreensível. Melhor mesmo levar tudo para Brasília, ligar os microfones e os holofotes e transformar tudo em espetáculo. Porque a realidade simples de governar, de administrar a máquina pública, de fazer os servidores trabalharem direito – tudo isso é muito chato e ninguém nota.

O ministro da Fazenda achou que podia deixar para depois a apresentação da queixa sobre o assalto que sofreu. É claro. Ninguém é de ferro. Tem que deixar passar o susto, descansar um pouco, fazer a barba, conversar um pouco com o Lula, dar comida para o cachorro (não necessariamente nessa ordem), para depois pensar na possibilidade de avisar à polícia.

É o tempo exato que os bandidos precisam para sumir no mundo.

Os assassinos do menino João Hélio também tiveram a seu favor autoridades boazinhas como o ministro Mantega. No caso, as autoridades da Secretaria Especial de Assuntos Penitenciários.

Como se sabe, Carlos Eduardo Toledo Lima, apontado como o chefe do bando que barbarizou a família de João, estava preso em regime semi-aberto – e um belo dia não voltou de seu passeio para a prisão. Fugiu.

A falta de critério e de acompanhamento dos beneficiados pela liberdade condicional já é um escândalo. E isso não é uma nova lei que vai mudar. "Prisão perpétua para quem fugir!", já, já vai gritar um deputado de direita. "Hospício de graça para o juiz que concedeu o benefício ao preso!", será o brado de algum deputado de esquerda.

E assim segue o teatro do absurdo que envolve a segurança pública.

O que poucos parecem ter notado é que a Secretaria de Assuntos Penitenciários seguiu a cartilha Guido Mantega: não avisou à Vara de Execuções Penais que Carlos Eduardo tinha interrompido suas férias na colônia penal. Para a Justiça brasileira, portanto, a fuga do sujeito que matou João Hélio não existiu – o que evidentemente tornou impossível que alguém tivesse a bendita idéia de tentar recapturá-lo.

Isso não é lei. Isso não é política. Isso não é corrupção. Isso não é terror. Isso não é manobra do crime organizado. Isso é apenas a boa e velha falta de administração.

Recomenda-se, portanto, ao senhor Sérgio Cabral, ao senhor Lula, ao senhor Mantega e demais autoridades histriônicas deste Brasil: sentem-se em suas mesas e trabalhem direito. Não tenham dúvidas, isso será uma revolução.
postado por Rainério

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