sábado, setembro 09, 2006

Anchieta fez isso aí faz um bom tempo...

Quem é de Itaporanga, conhece Luiz Zaquié....tinha uma casa de jogo...e anchieta fez estas estrofes para brincar com "Seu" Luiz, eu sem ter o que fazer, decorei...fazem uns 30 anos, acho

A Falência do Jogo de Luis de Zaquié
(Anchieta Olegário)

Aqui está a estória,
Numas quadrinhas que fiz
Que conta toda tragédia
Do jogo de seu Luis
E não é mentira minha
Pois tudo nestas quadrinhas
É ele próprio quem diz

Na cidade itaporanga
Existe um homem distinto
Tinha uma casa de jogo
Todos sabem que não minto
Sou testemunha e dou fé
Que seu Luis Zaquié
Era o dono do recinto

Num dia de sexta feira
Seu Luis se acordou
Ajeitou os tamboretes
A mesa, ele forrou.
Embolsou o seu dinheiro
Convidou seus companheiros
E o jogo começou

Eram quase nove horas
Quando caxita chegou
Entrou no jogo também
Todo mundo concordou
Por volta de 11 horas
Todo mundo foi embora
Seu Luis se apavorou

Pois lhe restava dinheiro
E não era hora exata
De todo mundo ir embora
Isso era coisa chata
Depois que lavaram a jega
No jogo, os seus colegas.
Fizeram uma coisa ingrata

Mas veja, por sorte dele.
Chegou Luis jabobeu
Com três amigos na frente
Água ali, ele bebeu.
Convidou o seu Luis
Isto foi o que ele quis
E o jogo renasceu

De repente, por azar.
Chegou o José sertão
O vulgo José pibite
Com dez cruzeiros na mão
Seu Luis desconfiou
E bem baixinho falou:
Vai haver uma confusão

Zé pibite amolecado
Botou a mão na maleta
Olhou para jabobeu
E fez logo uma careta
Daí falou bem-te-vi
Tira tua mão daí
Zé da venta de corneta

E veja, por sorte dele.
Chegou o Zé beliscada
Com um bule de café
Para toda macacada
Começou aperuar
Seu Luis pra xatear
Soltou esta piada

Se tem dinheiro se sente
Pois meu negócio é assim
Não ver que nesta tamanca
A coisa não ta pra mim?
Se quiser vamos jogar
Ou vá logo aperuar
Lá no jogo de Joaquim...(Joaquim Felicidade)

Só assim você arranja
A tampa da tabaqueira
Joaquim é um cara bom
Mas pra isto ele é matreiro
Nunca botou mão no fogo
E só entra no seu jogo
Aquele que tem dinheiro

O jogo pra seu Luis
Tava ruim como angu
Falou para jabobeu
Não resta um tutu
Nesta partida me frago
Seguido preto que trago
É o buraco do cu

Terminada a partida
Seu Luis foi quem ganhou
Do tamborete que tava
Jabobeu se levantou
Deu um peido fedorento
Seu Luis, neste momento
Nele, o baralho jogou

Por volta de uma hora
Seu dinheiro se acabava
Sem nenhum “xém-xém no bolso”.
Seu Luis se aperitiva
Dizendo: "é desagoro!"
E quanto mais dava o "chôro"
Jabobeu lhe aperriava

Eu hoje to de azar
Porém não sei o que é
Pra incurtar a conversa,
Tô com bixeira no pé
A sorte prá mim tá torta
Eu vou é fechar a porta
E ir lá pro cabaré

E assim aconteceu
Se mandou prá´queles lados
Com meia hora depois
Já estava embriagado
Vinha quase no empurro
Falou para Zé do Burro:
Meu amigo, tô lascado.

Me empresta um conto aí
Prá eu tirar a ressaca
Entrei no jogo bem cedo
Mas só fiz papel de vaca
Só fiz cagar no rejeito
Vê se tu me dá um jeito
De sair desta ticaca

Jabobeu e Zé pibite
Fizeram de mim, menino.
Vou falar com mestre Agapito
E com Abdon Tolentino
Subiram no meu poleiro
Carregaram meu dinheiro
Que dupla de assassinos!

Sabe de uma coisa?
Eu mudei de opinião
Eu vou vender aquele jogo
Que prá mim não dá mais não
Já cheguei a oferecer
E acho que vou vender
A Zeca da Encarnação

Zeca comprou o seu jogo
Como quem compra fumaça
Ele pegou o dinheiro
Comprou um chapéu de massa
Gastou um pouco fumando
Outro pouquinho jogando
E o resto de cachaça

Entrava num bar e noutro
Olhando sempre prá trás
Dizendo aquelas poesias
Daquelas que ele faz
Sempre com o seu talento
Dizendo digo e sustento:
Já bebi, não bebo mais.

Seu Luis ficou quebrado
Seus amigos foram embora
E ele desesperado
Os seus teréns jogou fora
Dizendo sempre consigo
O que é que meus amigos
Vão dizer de mim agora?

Vão dizer que to quebrado
De nada disso duvido
Pode falar quem quiser
Prá nada disso dou ouvido
Tudo prá mim é boato
O medo é de nem morato
Me botar um apelido

E assim foi dito e feito
A história foi assim
Nem morato quando soube
Tudo tim tim por tim tim
Começou a transmitir
Que pelaram o bem-te-vi
E tocaram fogo no "nim".


João Bandeira

1 comentários:

Unknown disse...

Beleza, João Bandeira! Quando tomávamos umas e outras, eu, Anchieta, Agostinho, Zé Rodrigues, Tonho Fonseca, João Dehon, etc, durante a pausa do violão e cavaquinho, Anchieta costumava recitar seus versos ricos em gracejos e espiritualidade. Eu me lembro que alguns falavam naquela turma boa de Itaporanga, Luis Zaquié, Tenor Benga, Otávio Garapa, Zé Pibite, Zé do Burro e outros mais. Entretanto nunca decorei nenhum e não me lembrava, sequer, da estrofe de algum! Agora, para deleite nosso, traz-nos esta obra prima do grande Chieta. Parabéns, "Cara"! Já copiei e vou entrar em contato com Tonho Fonseca para ele acessar esta página, pois ele é aficionado nestas coisas de Itaporanga!
Um grande abraço!
Jesus Fonseca