quarta-feira, novembro 22, 2006

EUA dão ultimato de 7 dias ao Brasil

EUA dão ultimato de 7 dias ao Brasil para liberar os dois pilotos do Legacy, e IPM pode atingir Waldir Pires
Por Jorge Serrão
Exclusivo – Os Estados Unidos da América deram um ultimato ao governo brasileiro: se, em sete dias, não forem liberados os dois pilotos da ExcelAire, o Departamento de Estado norte-americano “virá buscá-los”. Ou melhor, Joe Lepore e Jan Paladino embarcam de volta para casa como "exilados". Os dois estão no Rio de Janeiro, impedidos de retornar ao seu país, porque seus passaportes estão retidos por um exagero da Justiça Federal – que se nega a liberar os documentos. Os norte-americanos já constataram que a verdadeira causa do acidente entre o jatinho Legacy e o Boeing da Gol (no dia 29 de setembro, matando 154 pessoas) foi a falta de segurança do controle do espaço aéreo brasileiro, sem investimentos necessários – fato que vem sendo alertado pelos EUA desde 2002.

Ao receber o recado dos EUA e diante da ameaça de um incidente diplomático com a Casa Branca, Lula ficou transtornado com Waldir Pires, e quer tirá-lo o mais depressa possível do Ministério da Defesa. O Comando da Aeronáutica também quer a cabeça de Pires, seu suposto superior hierárquico. Ao abrir um Inquérito Policial Militar para apurar se a Associação dos Controladores de vôo estaria agindo como um “sindicato”, o que é proibido por lei, induzindo militares a quebrarem a hierarquia, o Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos Bueno quer atingir Pires. No IPM, o ministro baiano corre o risco de ser enquadrado como o agente causador da insubordinação dos controladores de vôo, durante a crise de “apagão” do sistema do Cindacta. Pires tem tudo para acabar punido pelo Código Penal Militar – o que abriria uma crise do governo com as Forças Armadas.

A ordem, no gabinete de crise da Presidência, é desarmar tal bomba. A missão apaziguadora está a cargo do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, General de Exército Jorge Félix. Mas o próprio Waldir Pires ajuda a alimentar a crise, armando sua “defesa prévia”. Ontem, o ministro da Defesa saiu em defesa dos controladores rebelados e de si mesmo. "A associação não agiu como sindicato. Absolutamente. Eles têm uma parte civil que tem ampla liberdade. Esses é que me procuraram". Pires sempre insiste que na reunião para a qual convidou o presidente da associação, um sargento controlador, ele foi levado lá em um carro do próprio Comando da Aeronáutica, com conhecimento e autorização do comandante da força, e foi muito cauteloso na conversa.

Waldir Pires jura que os controladores militares não fizeram reivindicações. “Foram muito cuidadosos. Disseram sempre que eram aspirações". Ao ser indagado se o IPM servia para intimidar os controladores, Pires provocou os militares: "Eu espero que eles sejam fortes. Eu daria um conselho a eles: sejam fortes. Nós somos cada vez mais dignos da vida, quanto mais pudermos resistir e tocar adiante, cumprindo sempre uma coisa essencial: preservem a segurança". E aconselhou: "Se por acaso o físico não resistir, não trabalhem. Agora, eu creio que somos capazes de resistir a muita coisa quando estamos mobilizados por dentro e estou vendo que eles estão com vontade e trabalhando”.

Revolta em silêncio das legiões

Nos bastidores, o Comando da Aeronáutica avalia que os controladores aproveitaram um momento em que estavam em evidência para reivindicar melhores salários e condições de trabalho, fugindo à disciplina militar.

Ainda no silêncio obsequioso das casernas, o Alto Comando da FAB também considera que, nesta crise, o governo desprezou o código militar e tratou dos controladores de vôo com lógica sindical

Para irritar ainda mais os oficiais da FAB e de todas as Forças Armadas, o governo petista ainda ameaça a segurança nacional, ao cogitar a transferência do controle do tráfego aéreo para a área civil.

Lula sabia dos problemas

A gestão “contingenciada” de recursos para as Forças Armadas, apenas para agradar ao FMI com mais superávit primário, é a principal responsável pela crise do setor aéreo.

O governo Lula não investe nos aeroportos e no controle de tráfego os R$ 1 bilhão e 900 milhões arrecadados com as tarifas aeroportuárias (taxas de embarque) pagas por passageiros e pelos donos das aeronaves.

Centenas de vôos são cancelados ou sofrem atrasos, fazendo com que passageiros percam horas nas filas dos galpões de embarque, porque o governo não usa o dinheiro público como deveria.

Objetivos do IPM

Além de atingir Waldir Pires (o que os militares jamais vão admitir publicamente), o IPM aberto pela Aeronáutica tem outros dois objetivos, durante 60 dias de investigações.

Primeiro, investigar a suposta operação-padrão realizada pelos controladores de vôos no fim do mês passado, considerada pela Aeronáutica a principal responsável pelo caos aéreo.

O problema é que tal operação padrão também foi causada pela pane no software do Cindacta, que está senso substituído.

Segundo, investigar o comportamento dos 150 militares de Brasília, responsáveis pelo Centro de Controle Aéreo (Cindacta-1), que respondiam pela área no momento da tragédia com o avião da Gol.

O IPM é tocado pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), sob delegação do Comando da Aeronáutica.

13 que azara o governo

Até amanhã, a Polícia Federal tomará os depoimentos de 13 controladores de vôo no inquérito que investiga o acidente com o Boeing da Gol.

Os dez controladores de vôo de Brasília e os três de São José dos Campos foram ouvidos pelo delegado Rubens José Maleiner, já que o delgado Renato Sayão, que preside o inquérito está de licença médica.

Os 13 profissionais operavam no controle aéreo no dia da colisão no ar do avião da Gol, que ia de Manaus para o Rio, com escala em Brasília, com o jato Legacy, fabricado pela Embraer, que partiu de São José dos Campos com destino aos Estados Unidos.

De quem foi o erro?

No dia do acidente, 29 de setembro, o Boeing da GOL deveria voar a 41 mil pés, como era de costume.

Mas sobrevoava o Mato Grosso a 37 mil pés, altura em que ocorreu o choque com o avião Legacy, que saiu de São José dos Campos (SP) com autorização para voar a 37 mil pés até chegar ao Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus (AM). O plano de vôo original do Legacy previa três altitudes. Nesse trecho, 36 mil pés, e depois, 38 mil pés.

Já os pilotos do Boeing da Gol foram autorizados pelo Cindacta-4 (Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Manaus) a sobrevoar a 37 mil pés.

Não foi divulgado se o plano original do vôo previa 37 mil ou 41 mil.

Coragem para agredir

O ministro da Defesa, Waldir Pires, comentou ontem que não tem medo de voar e que tem feito isso com muita freqüência e sem problemas.

"A única coisa que eu posso dizer é que eu vôo de avião".

O ministro insistiu que pedirá um relatório ao Comando da Aeronáutica acerca das denúncias sobre três "quase acidentes" neste ano, conforme noticiado no fim de semana.

Segundo o ministro, a Aeronáutica assegura que não ocorreram estes "quase acidentes" e que não há problemas nos equipamentos de comunicação.

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